sábado, 24 de dezembro de 2011

Rompendo o silêncio dos indiferentes

Pe. David Francisquini  (*)

Proclama o livro da Sabedoria: “Quando um silêncio profundo envolvia todas as coisas e a noite ia a meio do seu curso, então, a tua palavra onipotente desceu do Céu e do trono real e, como um implacável guerreiro, lançou-se para o meio da Terra condenada à ruína, trazendo, como espada afiada, o teu irrevogável decreto”.

Há pouco mais de 2000 anos, um edito de César Augusto convocava um recenseamento de toda o império romano. Naquele tempo, os recenseadores não iam, como hoje, de casa em casa interrogando as pessoas. Todos eram obrigados a se dirigir para tal fim à sua cidade de origem. Foi por esta razão que José — por ser da Casa e linhagem de David —, deixando Nazaré, na Galiléia, se dirigiu a Belém, na Judéia, a fim de se recensear com Maria, sua esposa.

O recenseamento concorreu para romper o silêncio e a rotina daquela cidade não muito distante de Jerusalém. Suas ruas, praças e hospedarias se encontravam cheias, num vai-e-vem contínuo de pessoas. Familiares, amigos, e mesmo estranhos se cumprimentavam e falavam dos pequenos acontecimentos de que se compunha a vida miúda daquela gente. Disso resultava um vozerio proporcional ao movimento da multidão, mas o suficiente para turbar os costumes da pequena Belém de Judá.

Foi em meio àquela balbúrdia que chegou São José, puxando um burrico sobre o qual se encontrava sua esposa, que estava grávida. Ninguém percebeu, sequer pôde entrever que o claustro virginal de Maria encerrava o Deus encarnado, “Aquele a quem nem o Céu nem a Terra podia conter”, prestes a vir ao mundo. José procurou por toda cidade um lugar onde pudesse nascer o Redentor: casas de parentes, hospedarias, casas particulares. Todas as portas se fecharam para ele e sua esposa. Ou seja, o Redentor não encontrou abrigo onde pudesse vir à luz do mundo. São João escreveu que a Vida estava n’Ele, e esta Vida é a luz dos homens. É a luz que brilha nas trevas e as trevas não puderam envolvê-Lo. O Verbo era Luz verdadeira que ilumina a todo homem que vem a este mundo. Ele estava no mundo, neste mundo que Deus criou, e o mundo não O quis reconhecer. Ele veio habitar entre os seus e os seus não O quiseram receber.

Cenário triste que se repete, ano após ano, nas celebrações do Nascimento do Redentor. Na verdade, tudo deveria parar a fim de ceder lugar, com todo o requinte possível, às celebrações d’Aquele que é a Luz do mundo. Afinal, Ele nos traz as melhores recordações de alegria, de paz, de harmonia e bem-estar. Natal do Menino Jesus em Belém de Judá. Natal em que a Terra inteira deveria se engalanar para receber o Inocente por excelência.

Não tendo São José e Nossa Senhora encontrado lugar no casario de Belém, foram se recolher junto à manjedoura, numa gruta que servia de abrigo aos animais. Foi ali que se deu o Natal do Menino-Deus, anunciado pelas vozes angélicas que ecoaram pelos campos e despertaram os pastores: “Glória a Deus nas Alturas e paz na terra aos homens de boa vontade!”. Nascido num campo como lírio perfumado, o Menino-Deus reuniu em torno de Si todas as classes, de reis a pastores.

A natureza toda sente-se embevecida e elevada porque um Deus que é o criador de todas as coisas e que governa o universo tornou-se criatura sem deixar de ser eterno e imutável.

Quem não se sente comovido contemplando uma criança tão bela, terna e frágil, que sob o olhar enlevado e compassivo de sua Mãe e de São José, jazia com seus bracinhos estendidos numa manjedoura, profeticamente a mesma posição que, 33 anos depois, assumiria ao morrer pregada na Cruz para a salvação da humanidade pecadora?
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(*) Sacerdote da igreja do Imaculado Coração de Maria, Cardoso Moreira - RJ

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

A Alemanha se prepara para o Natal


Benno Hofschulte  (*)

Todas as cidades da Alemanha, grandes e pequenas, começam as preparações para a grande festa do Natal, a mais popular e familiar festa entre os alemães. A preparação não significa apenas trabalho, limpeza, arrumação, compras. A nota dominante das semanas que antecedem a comemoração do nascimento do Divino Salvador é a criação de um clima, de um ambiente, que visa introduzir as pessoas e a população inteira numa crescente alegria em vista da vinda do Menino Jesus, que está próxima. É propriamente a expressão do tempo do Advento, em que a Igreja se cobre de paramentos roxos para, em espírito de penitência, ir de encontro ao esperançoso e feliz dia do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Nem mesmo na moderna metrópole financeira e bancária da Alemanha, na cidade de Frankfurt, às margens do rio Main, o ambiente e programa natalinos deixam de dar a nota. Nas quatro semanas que antecedem o Natal, o ambiente nas casas comerciais, grandes magazines e supermercados muda completamente. A música ambiente, antes febricitante e vulgar, passa a emitir exclusivamente melodias tradicionais natalinas e transmitem ao ambiente uma atmosfera de aconchego, de doçura e felicidade.

Não é raro encontrar-se com pessoas cantando baixinho, acompanhando a melodia que se ouve no ambiente, enquanto escolhem os objetos que desejam comprar. O mesmo se sente ao passear pelas ruas e praças públicas ornadas por inúmeros pinheiros iluminados, bordejadas pela festiva decoração externa das casas comerciais e igualmente inundadas por melodias natalinas, tocadas ou cantadas por pequenos grupos de músicos e cantores. Quando tudo isso merece a graça de ser coberto com um alvíssimo manto de neve – um gracioso dom divino de inocência – a visão se sente transferida para um conto de fadas.

Mas o centro de tudo é constituído pela Feira de Natal [fotos], montada na praça em frente à prefeitura, o histórico palácio denominado Römer; na mesma praça em que outrora o povo festejava a coroação dos imperadores do Sacro Império Romano Alemão.

A feira é solenemente aberta com o “acendam-se as luzes” no fim da tarde da quarta-feira que precede ao primeiro domingo do Advento. A essa ordem, dada pelo burgomestre da cidade, toda a decoração e a imensa árvore de Natal se iluminam. Conjuntos instrumentais e vocais começam a apresentar músicas de Advento e Natal.

No sábado que antecede o primeiro domingo do Advento, todas as igrejas do centro da cidade, em número de onze, fazem repicar os seus sinos durante meia hora, para anunciar o começo da época natalina. Um passeio pela cidade nessa ocasião é um acontecimento. É a realização do que diz uma linda canção de Natal alemã:

“Nunca os sinos dobram com mais doçura do que no tempo do Natal; é como se os anjos voltassem a cantar, como fizeram na sacrossanta noite de outrora, a glória de Deus e a felicidade dos homens. Ó sinos, espalhai pelas vastidões da terra o vosso sagrado som”.

Duas vezes por semana, trombeteiros saúdam os visitantes da feira, tocando melodias próprias da época do alto da torre de uma igreja. São Nicolau veio no dia 6 de dezembro para saudar e presentear as crianças de Frankfurt. No dia 7, todos, grandes e pequenos, se reúnem na feira para, ao cair da tarde, entoarem juntos as tradicionais canções de Natal, sob a orientação de um famoso cantor ou cantora. Neste ano participaram oito mil pessoas desse encontro. É um espetáculo emocionante e digno pelo cultivo público de uma tradição secular. Três milhões de pessoas de todo o mundo passam pela Feira de Natal todos os anos.

A origem das Feiras de Natal remonta à Idade Média, quando os camponeses e artesãos do interior vinham às cidades oferecer seus artigos de decoração natalina, artigos para presentes e guloseimas típicos como pães de mel, pães de frutas e biscoitos, cujo aroma é caracteristicamente natalino. A feira de Frankfurt é a mais antiga da Alemanha, tendo sido citada em documentos do ano de 1393.

Adultos e crianças têm oportunidade de degustar o mundo da inocência que a festa do nascimento do Menino Jesus irradia. Mais de um milhão e meio de pessoas visitaram no ano passado a Feira de Natal em Frankfurt. Até o dia 22 de dezembro as luzes da Feira estarão iluminando o centro da cidade, quando então, do balcão da histórica prefeitura, o Menino Jesus desejará a todos um santo e abençoado Natal e o burgomestre dará a ordem de “apaguem-se as luzes”.
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(*) Benno Hofschulte é colaborar da Agência Boa Imprensa (ABIM)

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

"Ela te esmagará a cabeça"

Pe. David Francisquini (*) 

No dia 8 de dezembro celebramos a tradicional festa da Imaculada Conceição de Maria, a Mãe de Deus, tendo Ela concebido por obra do Espírito Santo o Filho de Deus feito homem, a segunda pessoa da Santíssima Trindade. Os méritos de seu futuro Filho foram aplicados à Mãe antes mesmo d´Ela O conceber e, por conseguinte, sem a nódoa do pecado original.

Em sua onipotência, Deus fez o homem do limo da terra, dando-lhe alma imortal. A partir deste fez a mulher, colocando sobre este primeiro casal toda a sua predileção. E, para mais bem nobilitar a raça humana, quis participar dela pela Encarnação no ventre puríssimo de Maria. Coroou, assim, a obra da criação.

Como sabemos, esse primeiro casal foi infiel e não correspondeu aos planos do Criador. Mas nos seus divinos e soberanos decretos, revelou Deus que dessa raça pecadora viria o futuro Salvador. Sua Mãe seria uma pedra de contradição que, como um terrível exército em ordem de batalha, esmagaria a cabeça da serpente infernal. “Porei inimizade entre ti e a Mulher, entre a tua descendência e a descendência d’Ela e Ela te esmagará a cabeça, e tu armarás traições ao seu calcanhar”. Luta posta pelo próprio Deus, que a vem sustentando entre a raça bendita da Mulher e a raça maldita de satanás, entre os que são de Deus e os que são do demônio.

Luta que vem se avolumando no decorrer dos séculos. Nossa Senhora terça armas sem cessar com o demônio e seus sequazes. Sua vitória é garantida pelo próprio Deus, que a fez seu lugar-tenente na guerra contra o pecado, o demônio, o mundo enganador e a carne corrompida. Em Fátima, Ela mesma nos prometeu: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará!”.

Afinal, “quem é esta que surge como a aurora‚ bela como a lua‚ brilhante como o sol‚ temível como um exército em ordem de batalha?” (Cant 6‚ 8-10). Ao criar Maria, Deus onipotente a isentou da mácula original e fez n’Ela grandes maravilhas. Aquele que fez o Céu e a Terra resgatou da culpa da raça humana aquela que seria a Mãe do Salvador livrando-a da culpa original.

A Virgem Mãe de Deus está acima de todas as mulheres por ter virginalmente engendrado Aquele que os céus não podem conter. Eis a razão por que, ao criar Maria, Deus quis aplicar por antecipação os méritos de Cristo na Cruz, afastando d’Ela o pecado universal que maculara a raça humana. Só assim o Salvador poderia redimir os homens do pecado original.

Ao louvar Maria, o Anjo Gabriel diz: “Ave, ó cheia de graça!”. Como poderia ele dizer “plena de graça” se o pecado a tivesse maculado? Jamais! Deus a criou segundo os arcanos divinos que a haviam concebido desde toda eternidade para ser a Mãe de Jesus Cristo, a segunda Pessoa da Santíssima Trindade.

Ao oferecer os elementos de uma nova vida, a mulher é instrumento na mão de Deus, uma vez que Este a cria através dela. Assim também se dá com Maria ao gerar Nosso Senhor Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, por obra do Espírito Santo.

Não significa que Ela tenha gerado a divindade, pois o Filho foi gerado por via intelectiva desde toda a eternidade. Ao dar ao Filho os elementos para tornar-se homem, Maria se tornou Mãe de Deus. Por esta razão Ela não poderia ter a nódoa do pecado original, pois repugnaria à divindade tirar os elementos de sua humanidade de um ventre concebido no pecado.

Jesus Cristo veio ao mundo para destruir o cativeiro do pecado e da morte. Segundo afirmação de Santo Agostinho, Ele obteve o cetro da rainha das virgens que O concebeu — o rei da castidade — num seio virginal e puro onde Ele pudesse morar e dar-nos a entender que só um corpo puro e casto pode ser o templo de Deus. Antes de o sol nascer e deitar seus raios, já ilumina a Terra com um belo colorido.

Antes de ser gerado e nascer, Jesus Cristo irradiou o esplendor da graça redimindo Maria, inocentando-a da culpa original, ostentando sobre Ela os raios da mais perfeita virtude, fazendo-a imaculada. Assim, sem mácula e com virtude perfeita Ele, veio ao mundo para realizar sua missão redentora.
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(*) Sacerdote da igreja do Imaculado Coração de Maria, Cardoso Moreira - RJ

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Pães na porta de casa em plena capital paulista?

Os irmãos Carillo dão continuidade à tradição de bisavô italiano (Foto Folhapress)
Luís Felipe Escocard
www.ipco.org.br

Segundo notícia da Folha de São Paulo de 24 de novembro, dois irmãos, apesar de já formados em faculdade, resolveram seguir a tradição familiar e trabalhar como padeiros. Com um diferencial: eles entregam em casa.

Em 1914 seu bisavô chegou da Itália e abriu uma padaria no bairro da Mooca. Como era costume da época, fazia os pães bem cedinho e saía com eles numa charrete para entregá-los aos clientes.

Os jovens Guilherme e Gabriel Carillo começaram a trabalhar junto com o avô — que deu continuidade à tradição — e aprenderam todas as artimanhas da confecção do legítimo pão italiano.

Todos os dias, entregam os pães pelo bairro e arredores. Sabem dos gostos de cada freguês, por isso a entrega é personalizada: mais torrado, mais clarinho, grande, pequeno, recheado…

A São Paulo atual, assim como toda megalópole, é uma cidade massificada, agitada e comercial, onde as relações pessoais são cada vez mais raras. O comum são as grandes lojas, onde a pessoa só tem a opção de comprar o que está exposto.
Os pães são feitos como o freguês deseja (Foto Folhapress) 
Foi-se o tempo das pequenas mercearias onde o próprio dono ficava no caixa, do carrinho das frutas e verduras, do leiteiro, etc.

A notícia da qual falamos evoca um pouco aquela boa época, que infelizmente já não vivi, mas ouço dos meus antepassados. Onde tudo era mais tranquilo; sem drogas, imoralidade ou violência; os vizinhos se conheciam; e, principalmente, a religiosidade era bem maior…

Faço uma confidência: sinto saudades, muitas saudades, de uma época na qual, no entanto, não vivi. Parece meio contraditório, mas é o que sinto.

E você, caro leitor? Não sente a mesma coisa?

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(*) Luís Felipe Escocard é colaborar da Agência Boa Imprensa (ABIM)